Aprender sinais não é tão difícil. Mas saber usar todo o potencial da Libras para tornar a tradução ou a apresentação agradável é uma arte que requer dedicação e tempo para ser adquirida.
Cada idioma tem seus pontos fortes e seus pontos fracos. Características únicas que o tornam mais apropriado para dissertar sobre determinado assunto. O inglês é o preferido para tratar de assuntos técnicos. Com um vasto vocabulário e a flexibilidade de juntar palavras para criar um novo sentido, é o preferido por cientistas e engenheiros. Já o português, apesar de não possuir tamanha flexibilidade, é muito útil para poetas e letristas. Sua flexão verbal e sua sonoridade permitem criar verdadeiras obras de artes na música e na literatura.
Com a Libras não é diferente. Falar sobre assuntos técnicos é um desafio, é verdade. Por ser um idioma relativamente “novo”, ainda carece de vocabulário. Assuntos abstratos também é um desafio para um idioma visual em sua essência. Mas para narrar um acontecimento, contar uma história ou descrever objetos, não há idioma melhor! Assim como um filme, onde várias câmeras capturam a cena de diversos ângulos e o diretor escolhe a melhor sequencia para montar a história, a Libras permite descrever um acontecimento de diferentes perspectivas, e o intérprete precisa escolher a melhor sequencia para a história. Por ser um idioma visual, posso primeiro descrever a cena na visão de alguém que vê à distancia o acontecimento, como uma câmera que captura a imagem de toda a cena. De repente, mudo a perspectiva para alguém que se encontra no meio da ação, o ator que vive a cena, e através das expressões faciais, descrevo os sentimentos de todos os que participam nela. O intérprete narra a história e, de um instante para outro, passa a ser o personagem, que vive, que reage. Que outro idioma possui uma gama tão grande de recursos de narração como a Libras?
Esse é um dos desafios de um intérprete de Libras. Ouvir o que se fala e, ao mesmo tempo, decidir pelo “melhor ângulo” para prender a atenção de sua assistência (lembrando que normalmente usamos a tradução simultânea e não a consecutiva. A Libras favorece isso, especialmente por ser uma língua “silenciosa”. Enquanto ouvimos, traduzimos para a Libras, sem atrapalhar o palestrante com outros sons). Tudo isso ele precisa decidir em questão de segundos. Ouvir o que se fala, entender o assunto e tomar a decisão de qual rumo seguir para contar a história. É por isso que para ser um bom intérprete de Libras não basta conhecer os sinais. Não basta ser fluente no idioma. É necessário vivência e experiência. Convívio com surdos. E depois disso, raciocínio rápido para tomar as decisões certas ao explicar os assuntos. Por essas razões, lembre-se sempre de compartilhar o seu esboço em uma palestra que terá tradução em Libras. O intérprete poderá pensar melhor nos caminhos que sua tradução percorrerá. O intérprete agradece!